A indústria de games continua a surpreender, com desenvolvedores encontrando novas formas de subverter expectativas em gêneros consolidados. Dois exemplos recentes que destacam essa criatividade são “V Rising”, da Stunlock Studios, que inverte a lógica da sobrevivência, e “The Outer Worlds 2”, que utiliza suas mecânicas para dialogar diretamente com os hábitos de consumo dos jogadores.
V Rising: A Sobrevivência Sob a Ótica Vampírica
“V Rising” conquistou uma legião de fãs desde seu período em Acesso Antecipado no Steam e, com sua versão completa lançada para computadores em maio, consolidou-se como um dos mais refinados jogos de sobrevivência e construção dos últimos tempos. O título coloca o jogador no controle de um vampiro recém-desperto que precisa construir seu castelo e dominar o reino.
A principal inovação do jogo é inverter a lógica clássica do gênero: aqui, o dia é o inimigo. O jogador precisa se abrigar ou trabalhar nas sombras para não ser ferido pelos raios solares. A noite é o momento de caçar e explorar. O game dispensa a necessidade de comer ou beber água, substituindo-a pela caça por sangue. Diferentes tipos de criaturas, de ratos a ursos e humanos, oferecem sangues com atributos distintos que afetam os poderes vampíricos.
Construção Gótica e Combate Viciante
O jogo combina com sucesso elementos de ação ‘hack and slash’, com um sistema de combate e evolução divertido, e as mecânicas viciantes de coleta de recursos e construção popularizadas por “Minecraft”. Erguer o próprio castelo gótico, que se torna cada vez maior e mais elaborado, é um dos pilares da experiência.
O combate é um dos grandes atrativos, oferecendo uma vasta gama de equipamentos e poderes. A progressão está ligada à caça de chefes para obter o “V Blood” (Sangue V), que concede novas transformações e habilidades. Isso permite ao jogador evoluir de um vampiro frágil para um temido lorde das trevas, pronto para enfrentar outros jogadores em servidores PvP (jogador contra jogador).
Estilo Visual e Plataformas
Visualmente, “V Rising” apresenta uma direção de arte estilosa, com florestas, pântanos e construções góticas detalhadas que evocam um clima de “Transilvânia”. Embora tecnicamente simples, o jogo roda de forma suave e está disponível para PC, com a jogabilidade no mouse e teclado sendo bastante precisa. Uma versão para PlayStation 5 está programada para ser lançada em junho. O título também conta com legendas e menus em português do Brasil.
The Outer Worlds 2 e a Crítica ao Consumismo
Enquanto “V Rising” mexe com as regras da sobrevivência, “The Outer Worlds 2”, da Obsidian Entertainment, usa suas mecânicas para fazer uma crítica irônica aos próprios jogadores. O jogo oferece uma “falha” (flaw) de personagem exclusiva para aqueles que adquiriram a “Premium Edition”, que custa US$ 100.
Esta falha, chamada “Consumerism” (Consumismo), é oferecida ao jogador com uma descrição direta: “Você é a razão pela qual nosso marketing funciona. Promoções e vendas bagunçaram seu cérebro, e você está mais interessado em comprar a próxima grande novidade do que em planejamento financeiro.”
Uma Mecânica de Duas Caras
Na prática, a falha “Consumerism” faz com que os vendedores comprem os itens do jogador por um custo reduzido, mas, em contrapartida, também vendam novos itens com desconto. Essencialmente, o jogo pune o jogador por ter comprado a edição mais cara, mas o recompensa com descontos para que continue comprando. É uma escolha que o jogador deve fazer: aceitar a provocação e colher os frutos de ser um consumidor ávido, sempre trocando o velho pelo novo.
Inovações que Desafiam o Jogador
Tanto “V Rising” quanto “The Outer Worlds 2” demonstram a maturidade do design de jogos. “V Rising” prova ser uma combinação excelente de ação e construção, capaz de entreter até mesmo quem torce o nariz para jogos ao estilo “Minecraft”. Já a Obsidian utiliza “The Outer Worlds 2” para quebrar a quarta parede e fazer o jogador refletir sobre seus próprios hábitos de consumo no mundo real, oferecendo uma mecânica que é, ao mesmo tempo, uma punição e uma recompensa.